-
-
BARAFUNDA
Marta Bernardes e Afonso Cruz
“Mas porque é que as coisas se desarrumam?
Bem vistas as coisas, passamos tanto tempo a trabalhar para ter as coisas em ordem, mas as coisas acabam sempre fora de sítio, e em algum momento lá estamos nós outra vez a arrumar o que se desarrumou. Mas como é que isto acontece? Quando é que as coisas se desarrumam ? E porquê? Será que as coisas têm vontade própria? Se calhar não gostam de estar no sítio onde estão. Se calhar não é o sítio delas. Mas como é que a gente sabe qual é o sítio delas?
Talvez sejamos nós que não conseguimos saber que elas têm um sítio só delas, onde estão bem e do qual nunca quererão sair. Será que nós não o conhecemos porque não ouvimos as coisas com atenção? Mas e se for impossível ouvir as coisas?
Mas afinal quem é que diz quando as coisas estão desarrumadas ou não? E quem é que decide onde é o sítio certo das coisas?
Aiii! Que confusão! Que barafunda! Vamos lá arregaçar as mangas às ideias e ver se conseguimos pôr alguma ordem nisto!”
Barafunda propõe-se como um exercício poético, lúdico e prazeroso sobre a imensidão das coisas simples: por exemplo (des)arrumar um quarto, uma mesa, uma gaveta, uma frase, uma história, uma cabeça.
Inspirado nos maravilhosos “Metadiálogos”, textos de Gregory Bateson resultantes das conversas deste intelectual com a sua filha durante a sua infância, este projecto mergulha de cabeça e sem medo de naufrágios na ideia de entropia como coisa imanente e potenciadora de transformação do real; como lugar onde o erro, a tolice, a desordem e o riso são critérios rigorosos e muitas vezes são o caminho curto, curvo e certeiro para fazer colidir mundos que se desconheciam.
Este nosso Barafunda é também um beijo desordenado a todos os poetas, como por exemplo o Manoel de Barros, que sabia tão bem que “As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis: /Elas desejam ser olhadas de azul –
Que nem uma criança que você olha de ave.”Criação e Interpretação Marta Bernardes
Texto Original Afonso Cruz e Marta Bernardes
Música Original Nuno Sousa e Marta Bernardes
Vídeo e desenho de Luz Riot Films
Cenografia e figurinos Zé Cardoso e Marta Bernardes
Produção Ana Rocha - Mezzanine